terça-feira, 27 de julho de 2010

Um dia desses - Lado A

Era noite, era escuro. Eu estava trazendo os livros para o meu quarto e os empilhando na minha cama. A luz estava apagada mas mesmo assim dava pra ver que a pilha já estava grande. Um pensamento começou a me preocupar: "onde eu vou dormir?". Já estava bem tarde e eu me sentia exausta, não queria ter que remover os livros de lá.
Fui ao banheiro, tomei água e novamente a inquietação sobre o espaço me atormentava. Deitei na cama e fechei os olhos - ou os abri? Quando percebi estava acordada. Tateei o colchão à procura dos livros mas não estavam mais lá. O que teria acontecido?
Aos poucos fui entendendo que foi apenas um sonho. Mas ele era tão real que eu acreditei que estava empilhando livros na minha cama - mesmo que isso agora não faça o menor sentido.
Deitei novamente e então fui fazer as unhas. Mas isso é assunto dum outro sonho - ou dum outro post.

A tempo: no IPREV estamos fazendo a mudança da biblioteca de lugar. Deve ser daí que vieram as pilhas de livros. Como elas foram parar na minha cama é fruto das minhas caraminholas. (:

Um dia desses - Lado B

Naquela manhã eu acordei atrasado, com um telefonema de um colega me avisando que estávamos com problemas. Até onde eu podia recordar, já estava de férias havia dois dias, mas o telefonema era justo para lembrar que havíamos esquecido que naquela manhã haveria uma última prova, valendo toda a nota daquela última disciplina. Que disciplina? Eu não fazia ideia quando me levantei, mas o tom de urgência no telefone e uma vaga lembrança de que realmente havia faltado algum compromisso acadêmico pendente me fizeram ir o mais rápido possível para a tal prova.

No que parecia apenas um instante depois, lá estava eu na sala de aula, esperando o exame começar. Todas as quarenta ou mais carteiras estavam ocupadas por pessoas desconhecidas, mas que eram de certa forma familiares; com exceção dos meus colegas de turma, que estavam sentados em um canto da sala onde eu havia encontrado um lugar vago também. Eu ainda não fazia ideia de que disciplina era aquela, ou sobre o que seria a tal prova. Perguntei aos meus colegas, mas nenhum deles sabia. Os outros estudantes desconhecidos pareciam calmos, confiantes e completamente indiferentes ao nosso desespero, e todos estavam calados.

A professora, que aparentava ser do tipo carrasco, olhava com desconfiança para os alunos enquanto entregava a prova (uma única folha com pouca coisa escrita pelo que eu podia ver de longe) e ameaçava punições severas caso descobrisse algum aluno tentando trapacear. Ao entregar as provas para mim e meus colegas, olhava com desaprovação para mim, como se soubesse muito bem que eu não fazia ideia de quem ela era ou o que eu estava fazendo ali. Quando terminou de entregar nossas provas, as últimas, reforçou que estaria atenta e ordenou que cada um se concentrasse em sua prova, mais uma vez olhando na direção dos meus colegas. Finalmente, anunciou que poderíamos começar.

Naquele momento me ocorreu que, independente do que fosse, ao olhar as questões da prova eu seria pelo menos capaz de determinar de que assunto se tratava, e com certeza poderia entender o que estava acontecendo. A minha ansiedade já estava diminuindo quando ouvi um colega praguejar em voz baixa, “Que porra é essa?”. Fiquei curioso, e resolvi ler a prova. Ao virar a folha, vi uma única questão com várias linhas em branco logo abaixo. A questão era a seguinte:

“1) Utilizando as técnicas aprendidas nesta disciplina, faça uma análise do problema dos animais no trânsito (Valor: 10,0)”

Minhas esperanças foram por água abaixo quando terminei de ler, e fiquei desesperado novamente. Que raios de disciplina era essa? Mas o que me deixou mais confuso ainda é que eu me lembrava vagamente da voz da professora falando algo sobre animais no trânsito. Ouvi novamente a voz da professora, alertando para cada um cuidar apenas de sua própria prova, enquanto meus colegas, tão confusos quanto eu, olhavam uns para os outros tentando entender o que se passava. Todos os outros alunos trabalhavam concentradamente. O desespero me impedia de pensar com clareza, e mesmo sabendo que havia algo muito errado, eu não conseguia descobrir o que era.

Tentei me acalmar e procurar uma lógica no que estava acontecendo. Naquele semestre, eu só me recordava de cursar uma disciplina das humanas, gestão de pessoas, e eu havia passado com uma boa nota, sem precisar de exame. Ouvi novamente a voz da professora e pela primeira vez a reconheci. Era justamente a professora de gestão, apenas uma versão mais sombria. Olhei novamente para os alunos desconhecidos à minha volta, e notei que eram pessoas que estudavam na minha faculdade, mas que eu não conhecia, e todos devolveram o olhar. Olhei para a prova novamente e pensei um pouco na questão. O problema não era o absurdo dos animais no trânsito, mas sim o fato de ela justamente não dar nenhuma informação que eu precisava. A palavra sonho se formou na minha cabeça pela primeira vez desde que eu havia acordado para fazer a tal prova, e tudo fez bastante sentido quando eu finalmente notei que não estava na sala de aula, e sim na minha cama.

Nesse momento, cometi um erro bobo. Deveria ter levantado, ido ao banheiro, tomado um copo de água, ou simplesmente virado para o outro lado e pensado em alguma outra coisa. Ao invés disso, comecei a rever o sonho, para não me esquecer dos detalhes posteriormente. Acordar atrasado. A sala de aula, a professora e os colegas. A questão ridícula. Tudo ainda parecia muito real, muito vívido. A disciplina, que eu não lembrava o nome. Como era mesmo? Afinal, era mesmo um sonho ou eu realmente estava atrasado, precisava levantar imeadiatamente para não perder a prova? E essa questão, como iria responder uma coisa dessas, se eu nem fazia ideia do que se tratava? Antes que eu percebesse, o desespero todo voltou, e eu fui arrastado de volta para o sonho, tentando resolver aquela questão absurda até finalmente amanhecer.

...

Nunca fui muito bom com essa coisa de sonhos. Raramente consigo me lembrar deles, e essa foi apenas a segunda ou terceira vez em que lembro de ter ficado consciente de estar sonhando antes de acordar. Já me disseram que depois de ficar consciente de estar sonhando, é possível controlar o que acontece nele, mas eu definitivamente não levo jeito pra isso. Acho que alguma parte do meu subconsciente sente algum prazer macabro em pregar peças em mim mesmo enquanto estou dormindo.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

1º de fevereiro de 2008 - Lado B

A vida costuma caminhar de forma lenta, embora decidida. Nós sabemos e estamos acostumados com isso, e assim fazemos nossos planos, dividimos as coisas em parcelas com as quais podemos lidar a cada momento e tentamos conquistar as coisas aos poucos. Dificilmente alguém acorda um dia e percebe que vai conseguir aquilo que tanto queria sem que isso tenha sido planejado e conquistado, essas coisas costumam envolver todo um processo. Entretanto há dias que as coisas não acontecem bem assim, dias em que simplesmente tiramos a sorte grande e algo dá mais certo do que costuma dar, um dia que tem tanto significado que pode mudar o rumo de toda uma vida. Quem sabe nesse dia a solução daquele problema insolúvel caiu do céu, ou quem sabe aqueles realmente eram os números premiados da loteria, ou quem sabe algo melhor. Meu dia assim foi o 1º de fevereiro de 2008.

Naquele dia eu estava bastante nervoso, tinha um encontro marcado depois de muito tempo sem sair com niguém, com uma garota com quem eu só tinha trocado algumas palavras pessoalmente uma única vez, e que apesar das fotos eu nutria um medo ingênuo de não conseguir reconhecer. Havíamos conversado por horas a fio na internet, quem sabe talvez até ao ponto esgotar todos os assuntos e gerar um silêncio constrangedor. Isso se mostrou um medo mais ingênuo ainda, no fim das contas. Não só nos reconhecemos logo de cara, como tivemos uma tarde muito agradável, com praticamente 6 horas de conversa interrompida apenas por um pouco de sorvete. Me despedi dela com uma certa tristeza pelo dia ter acabado, mas por sorte inventaram o 2 de fevereiro, e o 3, e o 4, e o 5. Provavelmente não tão decisivos, mas nem por isso menos inesquecíveis.

A partir do primeiro de fevereiro, minha vida não era mais a mesma. O peso da importância das coisas mudou, as motivações mudaram, o significado das músicas mudou, alguns gostos mudaram, algumas cores, os planos de mais longo prazo deixaram de ser inexistentes. E aquela sensação de que apesar da boa vida faltava alguma coisa foi embora, também. Foi nesse dia que conheci o meu amor de verdade, e agora comemoramos dois anos desse dia tão importante. Te amo demais, Buca.

1º de fevereiro de 2008 - Lado A

Estava uma sexta-feira tão bonita. Estava quente, é verdade, mas afinal ainda era verão. O encontro estava marcado para 13:47, assim se ela se atrasasse – o que era bem comum – ele não perceberia tanto.
De fato quando ela chegou lá ele já estava esperando sentado na escada. Quando ela o cumprimentou pensou que não lembrava que ele era tão alto. Não lembrava, também, que ele era tão bonito.
Depois de um pequeno silêncio constrangedor inicial, as coisas começaram a fluir. Foram até um parque onde conversaram sobre música, cinema, literatura e até política. De repente era como se se conhecessem a vida toda. As horas passaram como minutos quando o relógio da catedral sinalizou que já eram cinco da tarde.
Foram tomar sorvete quando o momento de se despedirem se aproximava. Continuaram conversando, cientes de que a tarde estava acabando e que até aquele ponto o encontro parecia de bons amigos, quando na verdade os dois sabiam que não era só isso. Desde os primeiros recados um interesse mútuo surgiu entre eles e foi crescendo. O mistério do outro e a ânsia por desvendá-lo fizeram com que as conversas fossem cada vez mais freqüentes e a proximidade de um encontro só fez aumentar a ansiedade pelo que estava por vir.
Agora ali, de frente um para o outro, a ansiedade havia desaparecido, uma paz boa havia invadido o lugar. Eles ainda eram somente amigos quando se despediram naquele final de tarde, mas o carnaval estava apenas começando...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O que esperar de 2010? - Lado A

Todo início de ano é a mesma coisa: abraços, votos de um próspero ano novo e muitos planos para os próximos 365 dias (que agora são apenas 337).

É hora da Terra recomeçar uma nova volta ao redor do sol. É hora de emagrecer (ou engordar, no meu caso). É hora de aprender um novo idioma. Mudar o visual. Praticar atividade física. Ir mais ao cinema. Aprender a cozinhar. Fazer uma tatuagem. Sair de casa. Voltar pra casa.

É engraçado como esse ritual mexe com as pessoas e as fazem pensar sobre o que aconteceu e o que elas esperam que aconteça daqui pra frente. São tantos planos, tantos desejos, tanta esperança e vontade de mudança.

Muitas vezes, porém, as coisas não acontecem e aí toda aquela empolgação das 00:00 do dia primeiro desaparece no meio da rotina.

Acredito que uma das causas para esse insucesso é pensar apenas no resultado final, e não em como alcançá-lo. Assim, os sonhos caem no esquecimento devido a uma falta de planejamento. Mas isso não é tudo.

Muitas pessoas desejam se tornar melhores no novo ano: mais bondosas, responsáveis, íntegras, entre outros. Acontece que elas simplesmente esquecem de tentar viver isso no dia-a-dia. Assim, todos os dias o que vejo são olhares raivosos, estressados, explosivos ou ainda mesmo apáticos. Falta magia. Falta bondade. Falta até mesmo o básico, educação.

Minha impressão é de que o mundo tende a ir de mal a pior, e isso é tão triste.

Mas como o ano está só começando e eu também fui contagiada pelo desejo de um 2010 melhor espero que pelo menos eu consiga manter a calma naqueles momentos em que tudo parece perdido, inclusive a humanidade.

Espero, também, ter perseverança suficiente para levar adiante meus projetos, por mais bobos que sejam.

E espero que esse blog siga em frente!

O que esperar de 2010? - Lado B

Na realidade, não sei muito bem o que esperar de 2010, assim como não sei o que esperar de nenhum ano, além, é claro, das coisas mais óbvias. Muita gente faz lista de promessas de ano novo mas como não me dou muito bem com essas coisas prefiro não me arriscar. O que eu acho interessante é, em algum momento, parar e refletir um pouco sobre seus objetivos. Não simplesmente pensar o que você quer conquistar, ou qual atitude vc pretende mudar durante o próximo período de um ano, mas quem sabe também lembrar dos seus objetivos anteriores e ver o que você conquistou. Ainda se lembra dos seus sonhos de infância, ou de adolescência? Ainda quer vê-los realizados?
Qualquer dia vale para fazer isso, e se faz tempo que você não para e pensa sobre o assunto, como era o meu caso, agora é um momento tão bom quanto qualquer outro. E lembre-se que o mais importante não é traçar metas rígidas que acabarão não sendo cumpridas, mas ser sincero consigo mesmo. Feliz 2010 a todos.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Memórias de infância - Lado B

Era uma situação complicada. De onde eu estava escondido não dava para avistar nenhum perigo, mas toda cautela teria sido pouca. Eles provavelmente estavam escondidos também, esperando o momento em que saísse do lugar seguro onde eu me encontrava, ou que eu cometesse algum erro, e era justamente por isso que eu estava pensando tanto antes de agir. Naquele momento eu sentia aquele friozinho na barriga de antes de fazer algo arriscado, talvez misturado com um pouco de medo, afinal eu sabia quais seriam as consequências caso falhasse, mas sabia também que deixar de tentar não era uma opção, os outros dependiam de mim.

Além disso, o tempo era curto, e eu não podia mais desperdiçar. Subi na mureta de tijolos e olhei mais uma vez, com a vã esperança de encontrar algum inimigo que estivesse distraído o suficiente para ser enganado, mas não havia nenhum. Várias pessoas caminhavam distraídas pelo pátio de concreto, mais à direita havia uma pequena quadra onde se jogava futebol, alguns comiam seus lanches sentados nas escadarias, e o resto apenas perambulava. O burburinho era rotineiro naquela hora do dia, estava quente, e do resto não me recordo muito bem. Não é por menos, eu estava concentrado, tinha adrenalina no sangue, e resolvi tentar antes que fosse tarde demais.

Saí correndo no meio da multidão, desviando dela com facilidade. Ninguém deu bola pro fato de eu estar em disparada no meio de todos, esse tipo de coisa acontecia todo o tempo, mais precisamente todo dia. Segui em disparada até faltar uns 20 metros para alcançar meu objetivo, uma parede alaranjada, mas quando me dei conta já havia 2 correndo atrás de mim, e um terceiro que estava escondido se colocou entre eu e a minha parede. Certamente já não havia como sair bem sucedido, mas fugir até um local seguro ainda era melhor do que ser apanhado. Ponderei rapidamente sobre minhas opções de fuga e virei para a direita, onde não havia, aparentemente, nenhum perseguidor. Desci as escadas e virei novamente à direita, entrando num corredor estreito, e logo em frente havia uma bifurcação em T, na qual optei por seguir em frente para não perder velocidade. Ao passar por ele, vejo que um dos perseguidores vinha por ali, e se bate contra a parade ao me deixar passar com apenas alguns instantes de folga, atrasando o outro que vinha logo atrás de mim. Segui para a segunda bifurcação em T, mas dessa vez cheguei exatamente junto com o adversário que vinha por ali, e nenhum de nós conseguiu parar a tempo. De alguma forma, lembro que consegui, antes de cair no chão, bater nos dois lados opostos do corredor. Assim que abri os olhos depois da queda, vi que no final dele estava o Filipe, o único garoto da minha turma que definitivamente corria mais rápido que eu, então provavelmente não ia dar certo de qualquer jeito. Uma professora veio ver o que tinha acontecido, e eu acabei na enfermaria, com algum ferimento superficial. Era um final comum de recreio.

Não tenho certeza, acho que isso foi na terceira série. Só lembro que naquela época o pega-pega no recreio era obrigatório. E tinha regras complexas: divido em dois times, havia uma rotação dos times durante a semana, havia vidas, e quem perdesse em um time, ia para o outro, algo assim. Ir pra enfermaria também era comum, com um joelho ou cotovelo ralado, ou ambos, mas nunca me machuquei além disso na escola.

Eu estava tentando pensar em alguma lembrança legal da infância para escrever aqui, e descobri que não lembro de tantas coisas assim, mas também descobri que lembro de muito mais do que eu tinha imaginado a princípio. Talvez tentar fazer retrospectivas nas memórias antigas seja bom, às vezes tenho medo de que esquecerei de certas coisas se elas ficarem guardadas por muito tempo. Por outro lado, cada vez que puxo o arquivo e trago uma lembrança para a memória principal, ela já sofre alterações no processo, e o que é guardado de volta é sempre uma mistura da lembrança anterior com a interpretação do momento, e não há o que se possa fazer quanto a isso. Exceto, talvez, registrar em algum lugar. Talvez eu faça um blog pra essas coisas.